segunda-feira, 2 de novembro de 2015

EU VOU ME LEMBRAR DE NÃO ESQUECER!

Dia desses fechei meus olhos e tentei descobrir qual a lembrança mais antiga que guardo em minha memória. Pude percorrer quase que de forma inversa, a ordem com que as coisas importantes aconteceram. 

Lembrei-me das últimas tristezas, dos sufocos nos períodos escolares, do primeiro emprego, dos laços de amizades tão valiosos que perdi. Lembrei-me de alguns tombos, algumas broncas de infância, da configuração familiar, do tradicionalismo patriarcal, da primeira namoradinha, dos sonhos de infância.

A memória é sem sombras de dúvida, o maior mecanismo de identidade que temos. Nela estão armazenados todos os dados sobre o que éramos, o que nos tornamos e o que ainda seremos.

Percebemos o mundo através dos nossos sentidos e absorvemos a realidade codificando-a em sensações, significando tudo de forma bastante particular, e adivinhe onde é que armazenamos todo este arcabouço?

A memória é algo poderoso, capaz de transformar o ser humano por inteiro. É ela que quebra as forças do valente, mantém acesa a chama do corajoso, dá ânimo ao cansado e enfraquece o disposto. Tudo muito ambíguo, eu sei, mas a memória é um aparelho psiconeural quase autônomo.

A gente chora porque se lembra; ri porque se lembra, se emociona, entristece...

Engana-se quem acredita em uma fórmula milagrosa que amputa as pessoas e as livra de um passado sangrento. Para que isso ocorresse, o efeito colateral de perder-se a si seria inevitável.

Por pior que sejam as nossas memórias, devemos agradecer por elas, pois são a maior evidência de que estamos vivos e temos uma história.

Se relembrar velhos fatos dói ao coração, não tente evitar tais lembranças, mas aproveite da manifestação dos sentimentos que ela causa para investigar em si o porque  daquela lembrança ainda possuir tanta força dentro de você.

Não foi em vão que o ladrão ao deparar-se com o Cristo ao seu lado na cruz pediu: "Lembre-se de mim!" 

Uma forma de oxigenar nossa memória é atribuir possibilidade de construção aos projetos deixados para trás. Não devemos esquecer que há muita vida em nós, e por esta razão, todos os projetos empoeirados na estante da vida que possuem importância, pesam e pesarão, caso permaneçam esquecidos. 

Eu sei que muita coisa muda conforme vamos amadurecendo. Os sonhos de infância tendem a perder sentido na guerra de prioridades da vida adulta. Mas a reflexão é válida para quem está disposto a faxinar sua alma.

"Quero trazer à memória o que me pode dar esperança." (Lm 3:21)

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