quinta-feira, 27 de agosto de 2015

ONDE FOI PARAR NOSSA INOCÊNCIA?

Lembro-me de um tempo onde achava tudo mais simples. Quando era pequeno, perdia horas ouvindo a conversa de adultos e sempre me achava mais esperto que eles, pois eu sempre encontrava as respostas para os problemas que eles ponderavam. Costumava pensar comigo: "Ora, vai lá e diz que gosta dele e pronto." Ou então: "Fala que não tem dinheiro, que gastou com outras coisas e a pessoa vai entender."

No auge dos meus oito anos eu achava que a vida adulta "emburrecia" as pessoas. Não conseguia entender porque os adultos teimavam em reclamar, problematizar e neurotizar tudo que ocorria com eles.

Talvez no mundo dos oito anos as coisas sejam realmente mais simples. A gente sabe que não gosta de salada e damos a vida por algumas moedas que correspondam a um doce e uma pipa.

Talvez seja já na adolescência, um período bastante estranho, que perdemos esse jeito inocente de ser.

Em seus escritos, Freud considera que o avanço social ampara-se no que diferencia uma geração da outra, nas mudanças de hábitos e nos novos padrões que são elencados. 

É provável que o âmago dos novos padrões sociais encontram-se na subjetividade adolescente. Ou seja, o que  pode parecer um simples desentendimento entre um pai e um filho adolescente, pode se tornar uma modificação fundamental de posição afetiva em relação a dinâmica familiar.

Padrões comportamentais a parte, ressalta-se a nostalgia que sentimos quando lembramos da vida inocente.

"O caminho do homem é todo perverso e estranho, porém a obra do homem inocente é reta." (Provérbios 21:8)

Para sobreviver em meio a uma sociedade voraz é necessário ter unhas afiadas, músculos fortes e muita estratégia na cabeça.

Não dá mais para achar que seremos desculpados só por dizer a verdade; como se o chefe fosse compreender o fato de um aparelho celular não despertar na hora certa, ou a esposa aceitar que está gorda porque tem ficado ansiosa e comido demais.

Instintivamente vamos adquirindo habilidades para contornar situações desastrosas, usando para isso a grande variação do nosso vocabulário, omitindo intenções, ressaltando apenas hipóteses que possam jogar a nosso favor.

Criança não ludibria, ou quando o faz, deixa a evidência de um comportamento pouco comum para si. Eles nunca irão se preocupar com os pés à mostra quando se esconderem atrás de uma cortina. Enquanto nós insistiremos que os pés não são nossos, ou que a pessoa é que anda vendo demais.

Enfim, crescer é assumir a culpa de alcançar autonomia. Essa perversão deixa nosso caminho estranho, complicado.

Para uma vida reta, obras inocentes. Não como a ingenuidade infantil, impossível até então, mas obras inocentes no sentido de serem verdadeiras. Objetivos coesos, sem artimanhas ou articulações manipuladoras. 

Precisamos alinhar nossa conduta ao nosso discurso. Precisamos de menos complicações e mais "papos retos". Quem é que nos garante que este caos que vivemos hoje nas relações humanas não surgiu em uma complicação adolescente?

“Há que endurecer-se, mas sem perder a ternura jamais .” (Che Guevara )

2 comentários:

  1. Unhas afiadas prescritas para a rudeza de um mundo outro é um tanto bivariadas...

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  2. Thalyse minha querida, obrigado por seu comentário. Unhas afiadas, músculos fortes e estratégia são alegorias para descrever alguns processos da mediação de conflitos. Cada um se vira como pode né? Quando não agride constrói, quando não se esforça, pensa! Um ditoso ósculo.

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