quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

AMADURECER NÃO É COMO AMANHECER

Não sei quantas vezes você já perdeu o sono e ousou ir até a janela do quarto sondar a noite, se perdendo em pensamentos até o amanhecer. Não sei, aliás, se nessa improvável prática, você já conseguiu acompanhar o nascer da aurora.
Digo isso porque para mim o amanhecer ocorre no piscar dos meus olhos.

Eu posso ficar ali, plantado na janela, vigiando meus pensamentos para não me distrair e mesmo assim, haverei de piscar os olhos exatamente no momento ímpar da viração do dia; só pode. Na alta madrugada parece que amanhece tão rápido, de uma hora para outra, que nem  mesmo o mais atento consegue precisar o exato momento em que a noite vira novo dia.

As vezes acabo me perdendo nos anúncios que o céu dá. As nuvens lentamente voltam a aparecerem na atmosfera e gradativamente o céu vai mudando de cor num espectáculo glorioso de cores e desenhos evidenciados no horizonte que aponta para o norte. Tudo muito lindo e variável. Daí em diante, o sol nasce num céu azul vertiginoso.

E sabem porque digo isso? Porque acredito que o amanhecer seja o sinal de mudança, normatizado pela natureza, mais veloz que conheço.

Como gostaria de aprender os segredos dos astros. Há tanto em cada um de nós para ser mudado e isso muitas vezes parece um processo sem fim.

Somos peritos em formularmos metas para o Ano Novo e talvez proporcionalmente iguais na arte de protelar e não cumprir quase que nenhum deles.

Por que não somos capazes de mudar feito o céu na hora do amanhecer?

Amadurecer não é como amanhecer pois envolve desprendimento, sentimentos honestos e atitude. Privilégios dos já maduros.
Amadurecer não é como amanhecer porque envolve a emissão de sinais de mudanças e a necessidade do desapego do que era antes. E a gente insiste em querer que instantâneo mesmo seja só o macarrão feito no microondas.
Amadurecer não é como o amanhecer nem nunca será uma vez que não é comum ao ser humano alcançar uma linearidade em suas emoções que correspondam ao tempo cronológico.

Conheço "trintões" que são emocionalmente como crianças de colo e conheço crianças que esbanjam uma maturidade de causar vergonha ao criador do Castelo Rá-Tim-Bum. Engana-se quem pensa que maturidade emocional está ligada a idade cronológica. Talvez devesse, mas não está.

A maturidade vem à medida em que aprendemos a lidar com as nossas emoções ao invés de apenas reagir a elas. Saber que a raiva se chama raiva e que nos faz ficarmos zangados não significa que somos maduros. A maturidade nesse caso estará na forma como operaremos com o sentimento de raiva, causando o mínimo de desajuste social possível.

A maturidade está relacionada à forma com que eu relaciono comigo e com o meio onde estou inserido, de forma a ser menos reativo e mais reflexível.

Maturidade comunga com conteúdo; é uma espécie de sabedoria empírica.

Muito se perde por imaturidade. Razões das maiorias dos desajustes.

Mas devo informar que em tudo é necessário que haja o tal do equilíbrio. Não dá para ser maduro demais. A fruta madura ao extremo apodrece. 

Sempre que posso recomendo aos amigos que atentem ao ambiente onde estão inseridos. Eis o termômetro da maturidade. O rapaz pode ter 17 anos mas se for pai ou se tiver responsabilidades para com um lar, não poderá ficar andando de skate às dezesseis horas de uma segunda feira.

Digo mais uma vez: Maturidade correlaciona-se a conteúdo; a diretrizes. Talvez seja este mais um dos grandes desafios de se viver: Entregarmos uma essência potencialmente mais responsável ao universo.

Isso implica em você deixar de culpar os outros pelos seus erros; implica em conscientizar-se diante dos fracassos, dos temores.  A maturidade nos ensina sobre a existência de um bem maior que difere do nosso ego.

Quisera eu habitar no mundo adulto cheio de pessoas maduras, preocupadas em fazer o que é certo.

Quisera eu habitar em um mundo onde não só amanhece fora das janelas, mas dentro de cada um...
Quisera eu.

"Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." (Pv 4:18)












Nenhum comentário:

Postar um comentário