Tantas são as palavras ferinas arremessadas com grande furor em discussões altamente depreciativas, que torna-se impossível passar ileso diante das crises de relacionamento.
O problema se agrava quando as marcas tornam-se profundas a ponto de se perpetuarem ao longo da existência do sujeito, embaçando o olhar a cerca de si e do outro que se apresenta ao longo da vida.
Algumas marcas na alma são tão nocivas que chegam a adoecer o corpo, a desvirtuá-lo. Os traumas ganham destaque quando falamos de comportamentos inadequados e causadores de angustia. Muitos são originários na imposição que o outro incuti na vida diária ou na forma rude com que se apresenta.
Mas a questão que paira não é sobre a origem do trauma, mas sim sobre a forma como se reage a ele.
A aproximação com o outro propicia uma série de desafios na dinâmica do
relacionamento. O conflito passa a ser então uma espécie de tentativa
de articulação de opiniões e sentimentos que divergem a cerca de um
fenômeno.
Por mais que o ser humano se encontre evoluído, os conflitos ainda
aparentam ser das eras passadas, principalmente no que tange a forma de
ver e se desafiar pelo outro.
O outro exerce uma série
de aspectos quanto a identidade do sujeito. Ninguém é para si. Somos
sempre para o outro, estamos para outro e só nos reconhecemos por causa
da existência de um outro, que no caso refere-se a qualquer pessoa que nos atravesse e nos ajude a traçar nossa história.
Ao que nos parece, a sociedade reproduz de forma amplificada os comportamentos que o ser humano emite na forma particular. Se temos uma sociedade adoecida, haveria de ser pelo fato de originalmente existirem pessoas emocionalmente vulneráveis e confusas que passam a hastear bandeiras de intolerância frente aquilo que desconhecem e recriminam em si mesmas originalmente.
Verdade é que o outro acaba por ser um espelho a refletir o melhor e o pior de nós. Não em vão que nos sentimos tão inquietos diante de uma crítica. O absurdo costuma ser mais nosso do que costumamos pensar.
Há uma tendência em nos afeiçoar com o outro que nos reflete algo que nos seja agradável. Desenvolvemos amabilidade ao retorno de gentileza e isso se dá quando o outro enfoca e reflete o melhor que há em nós. Nesse contexto a expressão "amar é se reconhecer no outro", passa a ser absolutamente verdadeira.
Freud foi enfático ao destacar o Narcisismo como condição precípua de resistência ao Ego fragilizado. Em outras palavras, estava a dizer que o sujeito que volta para si o objeto de amor, nada mais esta fazendo do que evidenciar um "eu" enfraquecido diante da ação do outro.
Logo a ideia de que "antes só do que mal acompanhado" passa a destacar o inverso do que se pretende dizer.
Por mais que você não admita o outro é sim uma parte de você e está nele a correspondência daquilo que você sente que perdeu. Isso em todos os níveis.
Longe de mim incutir a impressão de que somos todos vazios de conteúdo e que a motivação dos nossos atos cabe exclusivamente ao famigerado outro; contudo, não dá para desconsiderar sua grandiosa influência em todos os nossos êxitos e erros.
Doravante o que proponho que possamos tangenciar o significado de nossas ações, considerando este outro por quem dispensamos tanta energia.
A propósito, nesse momento, você seria capaz de dizer quem é o seu outro e o quanto esta a viver por, para ou junto dele?
Oriente-se. Por mais distante que uma ilha esteja do arquipélago, ela nada é sem o mar que a rodeia.
Dar a outra face ao outro é um gesto da mais alta completude. É viabilizar a ele o crescimento por meio do arrependimento e vergonha.
"Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;"
(Mateus 5:38,39)
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