sábado, 13 de fevereiro de 2016

DE DENTRO DO CASULO


Não é de hoje que tenho dito que somos permeados por duas realidades. Na verdade nem sou eu quem diz isso, eu apenas concordo com a maioria das sábias explicações Freudianas a respeito do sujeito.

Quando penso em realidade externa, ambiente visível e palpável, a considero como um ringue por onde lutam os bravos, caem os fracos e celebram os fortes. A realidade externa é um ambiente pluralizado, onde todos competem por um lugar a luz. Ali uma das principais palavras de ordem é o Poder.

Na realidade externa tudo se concretiza. Tanto a realização quanto a frustração, ambas se tornam uma verdade visível e compartilhada. Ali tudo é construído por intermédio de ações. Quem é, quem não é e até quem finge ser. Tudo passa pela crise da popularidade.

A realidade externa não perdoa intenções. Nesse estranho ambiente extra corpóreo, todo ato desencadeia uma reação e deixa um rastro. E olha que nem precisamos de física para entender esse processo. Experimente sair nu um dia de casa.

A realidade se mostra quase sempre cruel, e não tolera erros e  nem inadaptações. É por meio dela que as principais teorias foram formuladas e estão ai até hoje nos ajudando a entender esse estranho mundo ao qual estamos inseridos (embora muitos de nós nem os pertença).

A pura percepção da vida nos convoca à um movimento coletivo onde só os mais adaptados conseguem equilíbrio.Tal qual uma dança, a realidade nos convoca a cadência dos passos, ao encontro dos pares e ao movimento.

Mas o que seria da realidade externa sem a influência da interna que lhe dita, nessa dança, o ritmo e o tom?

Absorvemos a realidade por meio das nossas percepções e trazemos esse insumo ao emaranhado de sensações e pensamentos. Estou falando de realidade interior. Você pode não acreditar mas nossos pensamentos seguem uma lógica quase gramatical. Os pensamentos fluem em nossa mente de forma discursiva e  remetem, em grande parte, ao que vem do lado de fora.

Refletimos sobre o que ouvimos, vemos e sentimos. Nossos pensamentos influenciam totalmente nossos atos que são na verdade a materialização destes na realidade externa. Pronto: temos em nós o maior círculo vicioso que impulsiona a vida.

Por isso que somente pensar sobre um fenômeno raramente irá incutir em realização e agir impulsivamente também só tende a fazer o tempo passar sem resultados.

Se por um lado temos um mundo de pensamentos, do outro temos um caracterizado pelos atos e no meio disso tudo estamos nós.

Somos os mediadores dos nossos mundos e a melhor forma de permeá-los é através das fantasias. Não é atoa que as crianças possuem um mundo particular e por isso são tão leves, tão naturais. Sonhar que é gente grande é na verdade uma forma de existir em uma realidade nova e até então diferente.

As crianças nos ensinam muito sobre saúde emocional. Podemos aprender com elas sobre autenticidade, amabilidade e prioridade ao desejo (que é o que somos em essência).

 Não dá pra idealizar um mundo feito um jardim de infância, com intenções puras e doces. Mas cabe uma reflexão sobre os impactos que temos promovido nos mundos aos quais pertencemos.

Para o comportamento apático e ranzinza de uma sociedade capitalista pede-se mais cores e mais vida da criança interior.

Para a intolerância e doutrinas de morte primitiva, pede-se uma postura mais despretensiosa e mais focada as nuances do desejo. Desejo de ser ao invés de ter.

Nessa toada, sobrevivem os mais adaptados que são em tese os melhores mediadores dos seus mundos.

"O sentimento sadio é vida para o corpo..." (Pv 14:30)

Nenhum comentário:

Postar um comentário