quinta-feira, 28 de abril de 2016

NÃO ESPERE UM "PRA SEMPRE" DE QUEM VOCÊ SÓ TRATA COMO "AGORA"


Então tá: Lá estava ele, o príncipe, montado em seu cavalo branco, desbravando as florestas do sul, quando percebeu de longe um grandioso castelo perdido em meio em um vale de grandes árvores. Sua intuição o direcionava avante à estrutura desconhecida. Não sabia o que esperar, haja vista nunca ouvir falar de tal reino.

Aproximou-se daquele mausoléu gigantesco. Um silêncio quase que mortal o atravessara. Sussurrou um "oi", não obteve retorno. Decidiu então subir até a torre mais alta para avistar toda a extensão; foi quando lá chegando, viu uma bela donzela deitada sobre um leito. Sua beleza o desnorteara pois em toda a sua vida jamais havia visto alguém assim. Entorpecido pelo semblante da jovem, ele a tocou na face sentindo seu coração acelerar ao beijar-lhe os lábios imóveis num beijo lento e profundo.
Para sua surpresa, a bela moça indefesa despertara instantaneamente, e com um olhar de agradecimento devota ao seu salvador todos os dias restantes de sua vida.

Não sei se deu para perceber mas esse relato é uma adaptação minha do conto da Bela Adormecida, em partes, da dose de amor romântico idealizado que permeia as histórias infantis.

Inegável que essa dinâmica ocorra na subjetividade das pessoas. Estamos cercados de príncipes invasores e de bela adormecidas. 

É função do homem desde os primórdios avançar nas relações, talvez por seu instinto conquistador, talvez por sua necessidade de se estabelecer enquanto macho alpha. Já as belas andam cada vez mais adormecidas, amortizadas, eu diria. Talvez por uma mudança cultural, as belas estão adormecendo seus instintos  mais primordiais. Algumas com a ajuda da ciência cogitam até não mais menstruar.

Constatações sociológicas aparte, cabe destacar o dia seguinte do casal fabuloso, ao que todos chamam de "happy end". Imagine só conviver com alguém que lhe seja um completo desconhecido, cujo legado se deve a um favor que lhe foi prestado.

Imagine como seria estruturar uma relação com base na gratidão por algo que você nem pediu para lhe fosse feito. Da mesma forma imagine assumir um compromisso somente com base naquilo que o outro aparenta ser.

Não é de hoje que beleza e gratidão são ingredientes fundamentais dos amores românticos. Pouco importa o conhecimento da história do outro, sua índole, ou suas preferências. Achando a bela que se acha agradecida por ter sido despertada pelo príncipe salvador, tudo mais se dará!

Doce ilusão acreditar em um futuro a dois com base única e exclusivamente num  tempo presente favorável. Presentes surpreendem mais perdem o frescor com o passar do tempo.

Em outros termos, basear uma vida a dois levando a efeito apenas a paixão repentina e vivaz  é como lançar a boca uma goma de mascar e esperar que esta lhe traga saciedade.

Mais uma vez hei de apresentar um paradoxo: Se por uma lado a paixão desconheça qualquer indício de vicissitude para acontecer, por outro, não há de se dizer da hipótese de longa duração de uma relação sem antes ter para si os arcabouços que o outro traz consigo.

O agora não rende garantias para além do agora!

A problemática se estabelece a partir do momento em que nega-se o histórico, ou, na demonstração de fragilidade emocional em querer se esquivar dele. Que fria poderia o famigerado príncipe se envolver ao invadir um castelo de sabe-se lá de quem? Ou mesmo o que poderia ter contraído ao explorar os lábios da desconhecida? De igual sorte, que loucura da bela moça ficar a mercê de um qualquer para renascê-la. Destino cruel.

Não dá para controlar todas a variáveis é o que a ciência nos ensina. Mas acredito eu que também nem rola ficar à deriva, esperando pelo inesperado.

A vida é um misto de experiências. Antegozamos os benefícios do agora sonhando com as intempéries do para sempre. 

Queremos que os momentos bons durem para toda vida, mas esta retórica infelizmente cai já na eminência dos primeiros conflitos. Queremos um final feliz para o que ainda nem começou.

Pudera nosso complexo mundo interior crescer e maturar feito a lógica de nosso desenvolvimento. 

Precisamos de mais históricos nas nossas histórias. Precisamos de contextos que nos justifiquem. 

O beijo pode ser o do agora, mas o "felizes" certamente será  do para sempre!

"Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação." (Romanos 15:2)

Nenhum comentário:

Postar um comentário