sexta-feira, 7 de agosto de 2015

EU QUE NÃO SEI AMAR

"E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.
Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo(...)  (...)mas para o homem não se achava ajudadora idônea.
...E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão.
E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. (Gênesis 2:18-23)

Desde do livro de Gênesis, observamos a necessidade que o ser humano possui de se relacionar com seu semelhante. Adão, apesar de desfrutar de um contato imediato com Deus, ainda necessitava interagir com algo que comungasse de sua própria humanidade. 

Curioso fato, uma vez que Deus como criador, poderia corresponder a todos os anseios de sua criação, estando essa plena em sua funcionalidade. 
Acontece que eu tenho uma aposta; Adão não estava pleno, criado por completo.  Mesmo possuindo um organismo vivo e perfeito, o primeiro homem, ainda haveria de relacionar com seu par, para por fim, experimentar de sua real natureza e assim incutir nos seus próprios erros.

A partir de então, em uma série de sucessões, os homens passaram desenvolver relacionamentos, constituindo importantes papeis sociais a se reconhecerem como pessoas, construindo para si cultura, costumes e hábitos norteadores de seus comportamentos.

Muitas pessoas fazem menção do texto  no tocante ao matrimônio, que é um ato cultural. Mas o que desejo ressaltar, é que todos nós somos o que somos, graças as pessoas que nos rodeiam.  Nosso comportamento advém de costumes aprendidos e normas internalizadas, na maioria das vezes.

Para a Psicanálise, tudo que é nosso, é ou advém do outro, uma vez que é nesse outro que olhamos enquanto ainda não sabemos o que somos (bebês), é para ele que direcionamos nossas intenções, que aprendemos ou aborrecemos ser o que somos. Para Freud, o outro é o que me ajuda ser o que sou.

Este é um conceito interessante que explica a influência do ambiente na subjetividade de uma pessoa.

Os gregos tinham uma maior noção do outro. Eles diziam que o reconhecimento do outro na nossa vida se dava por meio do afeto. Esse afeto seria o amor pelo outro, distribuído em quatro categorias:

 AMOR EROS como forma de reconhecimento do outro. Também conhecido como amor do corpo, amor erótico.  O sexo seria então, uma forma de reconhecimento do outro enquanto correspondente direto ao meu prazer. 

AMOR STORGE ou amor de afeição, seria a porção dedicada ao reconhecimento do outro por meio de consideração e do respeito. Tendenciosamente o amor Storge reina em um ambiente familiar, parental. Mais manifesto entre a cultura dos judeus e latinos. Destacam-se o toque das mãos, o abraço, o beijo amigo e as formas mais serenas de demonstração de carinho.

AMOR PHILOS ou amor fraternal, seria também uma forma de afeto recíproco. Um amor amigo. Para os gregos a principal característica da amizade é a reciprocidade e o amor Philos permitiria a demonstração do afeto mútuo.

AMOR ÁGAPE ou amor incondicional, seria uma relação onde não haveria necessidade de reciprocidade. É o amor de Deus. O amor Ágape  não é um amor compulsório, automático, mas sim o amor da escolha deliberada. É o amor concreto e não um sentimento de amor.

Para os gregos, o ser humano é dotado de uma capacidade para sentir todas as formas de amor.

Só que o amor conforme é colocado pelos gregos, nos impõe três questões que fundamentalmente precisaremos solucionar:

1º) Quem é esse outro com quem me identifico na atualidade? Ele existe?
2º) Como encontrar esse outro?
3º) Como reconhecer o outro?

Provavelmente o outro estará ou tenderá a aparecer na demonstração do amor Philos, uma vez que tendemos a nos reconhecer mais na natureza de uma amizade, quando o amigo passa a ser o outro de si mesmo, um outro do qual eu me identifico.

Assim, a gente acaba entendendo que o amor pelo outro nasce com base em três critérios fundamentais:

- ADMIRAÇÃO;
- HIPÓTESES DE SATISFAÇÃO;
- UM IDEAL DE COMPLETUDE;

Todos os critérios são tomados por base em uma idealização, uma vez que não há garantias de reciprocidade quando a expectativa parte de algo fantasioso, construído com base naquilo que se espera, bem mais do que naquilo que se conhece.

Se os gregos estão certos ou não, eu não sei, só sei que Deus nos fez seres em construção, vivenciando constantes mudanças o tempo todo. 
Sei também que não foi em vão que Deus nos ensinou a amar o nosso semelhante tal qual amamos a nós mesmos, deixando assim, um legado de comunhão e crescimento.

Amar o outro é uma forma de se amar, de se descobrir.

Que a semente caia em terra boa.
Paz!













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