terça-feira, 10 de novembro de 2015

A ESPERA ESTÁ EM MIM

Os trabalhos noturnos costumam ser para mim os que mais me trazem concentração. Talvez seja porque o silêncio da noite me permita ouvir os meus próprios sons, meus pensamentos.
Contudo, sempre que o cansaço bate, lá pelas tantas, não faço outro movimento a não ser o da espera. Espero pela promessa do amanhecer e com ele a justa liberação para o descanço.

A espera é um acidente do tempo que inquieta muita gente. Todo mundo espera por algo. 

Somos movidos por esta estranha força que muitas vezes independe de fatos ou indícios para se manter. 

Conheço pessoas que já esperaram anos por um sonho a ser realizado. Outras que esperam até hoje e velarão pelo que é incrível até o dia de suas mortes.

Até a natureza coopera com quem está funcionalmente habilitado para esperar; é só conversar com uma mulher gŕavida para percebemos o quanto dispõe de serenidade diante de um processo tão exaustivo e de mudanças em todas as áreas.

Contudo esperar não é fácil. O homem é um ser imediatista, conquistador. Por mais necessário que se faça, esperar é sempre a nossa segunda opção. A gente espera pelo que ainda não tem.

O processo de espera nem sempre é medido pelo tempo, mas pela intensidade. Alguém pode esperar horas por uma notícia, um resultado, e sofrer muito. Outros podem esperar meses e até anos pela conquista de um sonho, de um objetivo, sem, contudo, deixar se abater.

A espera é uma chama viva que vamos alimentando dentro de nós. A combustão acontece mesmo em tempos chuvosos e sombrios.  Quando não há nenhum elemento da realidade para manter a chama acesa, acabamos lançando mão do nosso próprio vigor. Há quem diga que a espera pela morte é o que nos faz envelhecer.

Mas como tudo nessa vida é relativo, para muitos a força da vida está na espera, pois sem ela, não haveria motivação e por isso já teriam morrido. 

Tem gente que constrói seu ideal de vida sobre a espera, tanto que quando conquista, não mais se reconhece. Para os tais esperar é viver; Apenas esperar é viver.

Tem gente que aprendeu a sonhar pequeno só para esquivar da angustia da espera. Para estes, se começar a custar muito, é porque não vale a pena.

Tem quem espera em silêncio, que luta apenas para si. Como na canção interpretada por Ana Carolina: "Mas é que se eu perder, eu perco sozinho; Mas é que seu ganhar, ai é só eu que ganho!"

A matriz da espera pode estar lá nos primórdios da educação, na forma com que nossos pais nos ensinaram sobre a vida, uma vez que há muito marmanjo fazendo birra por ai afora, por se achar grande demais para esperar.

Esperar é uma forma de encarar o presente conjugando-o com o futuro. É a marra da alma que inquieta-se diante da aparente impossibilidade.

A espera é uma das ocasiões que jamais conseguiremos substituir. Ou esperamos, ou desistimos. Não há uma terceira opção.  Ela é um desafio moral. Tá ai uma boa definição: A espera é um desafio! E desafios não são para todos.

Hoje escrevo para quem espera. Para quem envelhece a cada dia por sentir que o que se almeja permanece lá... Sempre distante, mas passível de alcance.

Escrevo também para os de coragem, aqueles que decidiram desistir de esperar. Uma decisão inteligente, dolorida e plenamente necessária, pois se assim não fosse, essa classe nem existiria. Desistir da espera é também uma forma de esperar, esperar que as coisas serão outras, sei lá!

Enfim, a espera é um elemento bastante comum em nossa vivência. Sorte dos que sabem passar bem por ela. 

"Porque em ti, Senhor, espero; tu, Senhor meu Deus, me ouvirás." 
(Salmos 38:15)





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