quarta-feira, 4 de novembro de 2015

UM LUGAR CHAMADO FRUSTRAÇÃO

Tem dias em que a gente se pergunta porque passamos por tantas aflições. Momentos em que olhamos para as circunstâncias e nenhuma delas cooperam com as fontes de nossa satisfação.

O lugar da frustração provavelmente é uma amostra gratuita do que há de ser o inferno, pois é considerada uma das piores sensações que o ser humano pode vivenciar.

A frustração é uma sensação de desamparo incomensurável.
Não se trata de um incomodo porque o time do coração perdeu, ou porque ainda não nos foi possível alcançar esse ou aquele objetivo. Isso não é frustração, talvez uma breve chateação. É diferente.

Quem não sabe perder, provavelmente, não sabe viver!

Nos frustramos quando sentimos a impotência ser manifesta de forma latente, quando não há amparo ou socorro que remedie o que sentimos. Mesmo quando o problema parece ser resolvido, muitas vezes, a frustração ainda permanece ressoando dentro de nós, pois é afeta ao mundo das emoções e não ao mundo real, embora advenha na maioria das vezes de experiências reais.

Costumo descrever essa sensação como um lugar, onde vez ou outra, caímos, tal qual a alegoria de uma esquina, feita para nos propiciar uma escolha.

Biologicamente falando nosso organismo sofre os efeitos do estresse em que somos acometidos quando nos sentimos frustrados, sendo que no nosso cérebro ocorre uma considerável descarga de um hormônio liberador de corticotropina, responsável por vários desajustes em nosso corpo que vão desde quedas de cabelos, úlceras no estômago, enxaquecas, disfunções intestinais, até acessos de raiva e ataques do coração.

Todo este aparato biológico foi decretado pela própria natureza: Somos dotados de uma programação fisiológica que nos permite responder as ameaças ambientais, com condições para obtenção de uma atenção mais aguçada e um corpo mais disposto para lutar ou fugir de uma ameaça eminente.

Acontece que não somos seres tão primitivos assim e hoje nossas ameaças destoam o campo material. Hoje nossa maior luta é contra nós mesmos, lutando contra nossos pensamentos e fugindo mais dos nossos desejos do que das aparências da realidade.

Mas voltando a frustração, ela sempre modulará nossos sentimentos quando encontrarmos com nosso eu incapacitante. Pergunte ao usuário de drogas e ele saberá descrever com exatidão o turbilhão de sentimentos que o domina momentos antes do uso do entorpecente. A maioria se sente assombrada pelo medo, terrivelmente torturada por uma angustia que vem de encontro com a sua realidade e ainda que não queira, não consegue exergar diante de si outra saída para este lugar que não seja o do uso da droga.

Aquilo que parecia uma solução biológica para os problemas da realidade se tornou um descompasso emocional altamente prejudicial nos dias de hoje. Falo da força de nossos inimigos internos.

Temos na Bíblia, na história de Ana, um grandioso aprendizado sobre como uma mulher atormentada pela frustração soube dar vazão a sua amargura e alcançar o favor de Deus.

"Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente... Porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora." (1 Sm 1:10,16)

Ana se casou com um homem que a queria bem, porém era estéril, o que certamente fez com que ele se casasse com outra que logo lhe deu vários filhos. Esta outra a provocava e fazia com que Ana chorasse. Certa vez Ana esteve no templo e sua amargura (frustração) era tanta, que ela mal conseguia fazer sua oração, apenas balbuciava, pelo que o profeta a teve por bêbada e a recriminou.

Ana foi uma figura frustrada e foi acometida, entre outras coisas, por um sofrimento que abateu seu semblante e a fez sentir só.
Ana foi tão frustrada que não lhe restou outra alternativa que não guardar a mágoa que sentia em seu coração.

Certamente sua ansiedade estava a matá-la. 
Sua condição era tão extraordinária que lhe causou repulsa do próprio sistema a que estava inserida.

Ninguém compreendia a frustração de Ana, nem o seu próprio marido.

A situação de Ana só mudou quando esta orou a Deus manifestando a Ele como seria importante para ela ser atendida, tão somente atendida, para ver-se livre de sua frustração. Nesta altura, ter um filho seria mais importante do que possuir um filho, tanto que seu pacto com Deus foi o de entrega.

Quando usamos de honestidade para conosco, principalmente acerca do que sentimos, a possibilidade de elaboração do conflito torna-se mais possível.

Deus atendeu o pedido de Ana à medida em que esta foi convencida de sua intenção.

Ela pode sair do lugar da frustração, talvez não da forma com que queria, mas com certeza da forma com que precisava. Ana foi atendida, não ficou no vácuo.

"Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites." (Tg 4:3)

Logo, não há como evitar a frustração, ela é recorrente na história de todos os que sonham. Acontece que ninguém merece habitar este lugar altamente mortífero. 

A possibilidade de saída está, num primeiro momento, em entender o porque ocupa-se este lugar tão conflituoso e em seguida abordar o assunto com a maior honestidade e limpidez quer para nós mesmos, quer para quem pode nos auxiliar.

Defender-se da frustração rejeitando-a é uma das maiores sabotagens que o sujeito pode fazer consigo mesmo.

Saber que este é um lugar insuportável é outra forma de entendermos o porque de nossas escolhas, pois quando frustrados, corremos para a primeira e mais fácil porta que se abre.

Que toda frustração se transforme em ocasião para alcançarmos sinceridade, é o que desejo.



3 comentários: