sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

FELICIDADE É UM INSTANTE

Entro no carro em um fim de tarde com destino a um lugar de reencontro esperado durante o ano todo. Já ao dar partida sinto o vento tocar meu rosto e com ele uma sensação de que estou a caminho de algo que eu sei que faz bem à minha alma.

Fecho os olhos por alguma fração de segundos e percebo um sorriso desses sem graça, despontar ao canto da boca. Felicidade é um instante, penso deliberadamente.

Perdemos tanto tempo sobrevivendo, fazendo do trivial uma forma de gastar os dias e assim deixamos passar despercebidos o que de fato nos importa: Sermos felizes.

Bastante clichê o pensamento que dinheiro não traz felicidade, mas de fato, não traz. Dinheiro traz possibilidades, tão somente.

Outro erro crasso: Achar que a felicidade é consequência de preparo! Este pensamento é uma forma de adiar a felicidade, sempre a transpondo para os objetivos ainda não alcançados. 

Felicidade é um instante.

Podemos facilmente crer que os fatores externos são propiciadores de felicidade e assim inverter nossas prioridades, deixando para existir em um plano extra corpóreo onde importa sempre materializar felicidade. Não sei que me faço entendido mas o que quero dizer é que felicidade é um termo subjetivo, que procede da ideia que cada um faz daquilo que possa ser bom para si. Como o dinheiro, por exemplo.

Felicidade não é o que eu posso fazer a meu favor, mas sim, o que eu faço para existir em plenitude. Tal entendimento amplia a questão e a retira do campo material. 

O fato de vivermos em uma realidade capitalista que apregoa a produção e o consumismo como meios absolutos de obtenção de prazer dificulta a compreensão de que muito do que estamos procurando exista apenas a nível subjetivo. Aliás, prazer não é felicidade. Prazer em uma descrição sucinta e grosseira seria uma descarga de tensão na via motora, o que relaciona-se muito mais ao termo satisfação do que ao termo felicidade.

Conclusões filosóficas a parte, cabe ressaltar que felicidade é um atributo muito singular em cada sujeito. É entendida e almejada de forma extremamente pessoal. Há conceitos de felicidade pré concebidos pela cultura, verdadeiros discursos ideológicos para acobertar uma discrepância entre a parcela que domina e a que é subjugada. Nesse contexto, vendem-se sonhos inalcançáveis e comercialmente rentáveis.

Felicidade é um instante, instante de febre como já diria Drummond. 

Gastamos uma vida inteira sobrevivendo entre um momento e outro que realmente nos dê sentido a vida.

Felicidade, entre outras coisas, é saber amar (falo por mim); é deixar-se levar por uma música que lhe toque a alma; é resgatar a sua história de uns achados velhos abandonados em uma gaveta de cômoda.

Felicidade é ser livre; é ser aceito por si.

Felicidade é saber perdoar e ser perdoado.

Felicidade é ser um são agradecido, ou, na possibilidade, um doente nunca apático ao seu mal.

Felicidade é conseguir se expressar; é saber pertencer.

Felicidade não é onde se chega, mas sim, como se vai.

Felicidade é um instante e não uma vida. Pelo menos não aqui, não agora.

"Todos os dias do oprimido são maus, mas o coração alegre é um banquete contínuo". (Provérbios 15:15)

Um comentário:

  1. Uhhh...esse texto me aquietou por um instante e me sacudiu no outro.Uma ótima reflexão.Mais do que isso, uma sacudida na alma.Deus abençõe.A paz

    www.gleisecaires.blogspot.com.br

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